Chuva

        A noite possui um perfume de jasmim, as primeiras ruidosas gotas cristalinas caem no calçamento de pedra, o pó ali depositado sofre o impacto de diamantes líquidos que adquirem a coloração marrom lama, o céu cinza azulado é constantemente riscado por raios, o som estrondoso e ensurdecedor de um trovão faz com que os poucos habitantes nas ruas procuram abrigo nas lojas ainda abertas, ergo minha face ao ar e deixo meus olhos fechados serem banhados pela água, ela é fria contra o calor das minhas bochechas rosadas agora pálidas como o giz, estou no terraço de um prédio antigo cercado de construções todos os ângulos, uma leve neblina rasteja com seus dedos esqueléticos pelo chão, o que começou com gotículas separadas agora se estende como milhões de fios juntos ate onde os olhos alcançam, minhas roupas encharcadas colam-se ao corpo, o cimento gelado acaricia meus pés, lentamente tremores constantes balançam meu corpo, o frio congela os ossos, mas a sensação de estar viva é maior que qualquer outro sentimento, o sangue correndo por minhas veias, o coração batendo, a adrenalina dominando meu corpo, abro os braços com uma inebriante sensação de prazer e alegria pura, depois de algumas horas a chuva para e eu volto para o que chamamos realidade...