quarta-feira, 27 de abril de 2011

A menina

 
No banco frio e molhado de metal negro com vista para um bosque de arvores estéreis com galhos retorcidos, secos e quebradiços, cobertos por uma neblina solitária que rodeia tudo, uma imagem deprimente, no solo escorregadio repousa um livro enlameado com intrincadas letras que o tempo aos poucos apagou, a relva o rodeia com seus braços espinhosos de folhas secas que escondem segredos.
Na capa já consumida um fecho de ouro persiste, aos poucos deixando uma menina de cabelos longos escurecidos espreitar para fora, seu rosto moldado com um sorriso brilhante e tão vazio de significado como uma lâmpada, traços suaves de uma face clara coroada por pestanas negra definidas, vestida com uma roupa simples mas elegante que exibe alegria, seus olhos escuros como o céu estrelado e frios como o inverno contam uma história diferente;  Neles a solidão, a tristeza e o desespero permanecem escondidos da superfície aparecendo somente para aquele que souber o que olhar.
Do solo nu, duro e morto coberto de musgo que no passado abrigara um lindo gramado verde resplandecente repleto de arvores anciãs com flores das cores do arco-íres, agora não resta mais que um livro abandonado jogado ao acaso coberto de heras que nascem entre as pedras e com avidez cobrem tudo em seu caminho.
A noite cai como um véu sem estrelas engolindo o desolado vale sufocando a menina enterrada nas velhas paginas empoleiradas do livro.

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